quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

10- Política Externa

O modelo institucional em que se encontra a PUC-SP hoje se enquadra no de numa universidade que centraliza sua formação na hegemonia das idéias liberais sobre a sociedade. Isso reflete como retificação do entendimento de universidade que serve simplesmente como caminho para ascensão social individual dos estudantes. Essa concepção é o que justifica a atual parceria com as empresas, a fim de que estas sejam as fontes de recursos para pesquisas, projetos e cursos dentro da PUC-SP.

Neste contexto, não basta democratizar o acesso à universidade. Há de se pensar em uma nova estrutura comprometida com a transformação social e responsável pela formação crítica dos estudantes. Para isso, deve-se primordialmente realizar parcerias com os movimentos sociais.

No âmbito da pesquisa, a idéia é vincular a produção de conhecimento às demandas dos movimentos. Assim, a universidade tem que estar aberta para recebê-las. Devendo priorizar o uso dos espaços internos da PUC-SP para esse fim. Realizando palestras, debates, e cursos, objetivando aproximar os estudantes da realidade desses movimentos.

Além disso, o ensino fornecido pela nossa universidade, voltado somente para o mercado de trabalho, é deficitário na produção de um senso crítico. Para combater tal lógica a direção da universidade deve fomentar as iniciativas de formação de grupos de estudos voltados para temas os quais a universidade apresenta defasagem. Esses grupos teriam formato de núcleo e seriam compostos por professores da casa, pagos por hora-aula, e por representantes dos movimentos. Tal prática requer mínima estrutura para que se viabilizem essas atividades. A universidade deverá disponibilizar salas, materiais e professores para o acompanhamento dos grupos.

Em relação aos estágios, a proposta é relacioná-los com as pautas dos movimentos. Nesse ponto, a prioridade é aumentar o número de bolsas-estágio para abarcar o maior número de estudantes possível. Deve-se também aumentar o valor dessas bolsas; primeiro para que o estudante opte por um estágio compatível com sua formação universitária; segundo para valorizar esse tipo de trabalho, distanciando-o do conceito de voluntariado e, por fim, para que o estudante possa se envolver nos projetos de extensão obtendo remuneração que possibilite seu sustento econômico.

Neste contexto, a PUC-SP pode criar e qualificar os projetos de extensão, tais como a área de projetos sociais do Escritório Modelo Dom Paulo Evaristo Arns ou utilizar o estúdio de rádio da Comfil para iniciar parceria com rádios comunitárias. Por fim, tendo em vista a importância da universidade se inserir nas discussões nacionais que abrangem os problemas inerentes a cada curso, a PUC-SP deve oferecer suporte para viabilizar esse envolvimento. Isso pode ser feito financiando a participação dos estudantes, disponibilizando transporte, fornecendo espaços para produzir oficinas de pré-encontro, ou até servindo como sede para tais.

Assinam a tese

Aldo Sauda (Direito), Alex Mirkhan (Jornalismo), Ana Carolina Andrade (Jornalismo), André "Mineiro" (Multimeios), Anuar "Gigante" (Geografia), Bruno Huberman (Jornalismo), Caio "Rubinho" (Jornalismo), Caião Tedeschi (Geografia), Camila Gomes (Jornalismo), Diogo Mustaro (Jornalismo), Eduardo Carlini "Tarzan" (Geografia), Fábio Nassif "Bronze" (Jornalismo), Fê Kalena (Jornalismo), Filippo "Guga" (Jornalismo), Gabi Moncau (Jornalismo), Gustavo Assano (Jornalismo), Irene Maestro (Direito), Ivan Sampaio (Direito), "Julião" Pimenta (Geografia), Lucas Castro "Ribeirão" (Jornalismo), Luiz Guilherme Ferreira (Direito), Luís Castro Mourão (Multimeios), Luísa Dávola (Direito), "Luka" Franca (Jornalismo), Mariana De La Togna (Psicologia), Marcela Rocha (Jornalismo), Marina "Zázá" (Jornalismo), Marina Pita (Jornalismo), Natália Contesini (Jornalismo), Naty Pezzato (Geografia), Otávio Paiva (Direito), Paula de Paula (Jornalismo), Paula Salati (Jornalismo), Pedrão Nogueira (Jornalismo), Rafael Thomé (Jornalismo), Raiana Ribeiro (Jornalismo), Rodrigo Mendes (Jornalismo), Rodrigo "RBD" (Jornalismo), Rogério Perito "Gegê" (Economia), "Tato" Nagoya (Jornalismo), Tiago Castro (Geografia), Valério Paiva (Jornalismo), Vanessa Koetz (Direito), Vinícius Costa (Jornalismo), Vitinho Sousa (Jornalismo), Vivian Lobato (Jornalismo), "Zé" Roberto Jr. (Jornalismo)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Carta Proposta de Florestan Fernandes

Eixos de campanha do Florestan:


1)Estrutura de poder

2)Plano financeiro

3)Acesso e permanência

4)Trabalhadores da PUC

5)Estudantes

6)Comunicação, cultura e democracia cotidiana

7)Infra-estrutura

8)Política externa


1)Estrutura de poder


- Paridade dos três setores em todos os conselhos;

- Eleição direta para reitoria e todos os cargos administrativos, com peso igual dos votos entre os professores, estudantes e funcionários;

- Rejeição do Consad (Conselho Administrativo) imposto pelo novo estatuto e de qualquer espaço de interferência da Fundação São Paulo, como a lista tríplice de escolha dos candidatos;

- Criação de um conselho consultivo composto pelas entidades representativas dos estudantes, professores e funcionários;

- Realização de um congresso bianual – democrático e autônomo -, que tenha poder de convocar referendos sobre a manutenção ou destituição de reitores, ou sobre outros assuntos de interesse da comunidade;


2)Plano financeiro


- Abertura dos livros caixa e auditoria de todas as contas da PUC-SP;

- Em caso de comprovação de irregularidade nas contas da universidade, demissão imediata dos administradores envolvidos;

- Volta do sistema de cobrança próprio da universidade. Garantia de não inclusão dos devedores no cadastro do SPC/Serasa;

- Fim da ingerência dos bancos na universidade;

- Defender que o Estado cumpra seu papel social de prover ensino público, gratuito e de qualidade para todos, inclusive na PUC-SP;


3)Acesso e permanência


- Reabertura do edital de bolsas de estudo, com garantia de permanência de tod@s que não podem pagar, inclusive estudantes do primeiro ano;

- Redução da mensalidade condizente com a realidade sócio-econômica de cada estudante;

- incorporação dos bolsistas do ProUni como bolsistas da universidade. Que a verba do ProUni seja direcionada para a expansão de vagas nas universidades públicas;

- Isenção da taxa de matrícula e taxa do vestibular;

- Incentivo ao cursinho popular do CACS da PUC-SP, mantendo sua autonomia político-pedagógica;

- Redução do preço do bandejão e desconto para bolsistas;

- Fim de todas as taxas da biblioteca e das secretarias;

- Plano de moradia comunitária, com cadastramento dos moradores do bairro (estudantes, professores, funcionários ou não) que possam hospedar pessoas em casa durante o tempo de vínculo com a universidade;

- Plano de carona comunitária, com cadastramento de estudantes, professores, funcionários ou moradores da região que possam fornecer carona entre casa, universidade e trabalho;

- Construção de um bicicletário gratuito na PUC-SP;

- Construção de creches e berçários para filhos de funcionários e estudantes da comunidade;

- Garantia de que os inadimplentes poderão assistir aula e ser registrado no diário de classe;


4)Trabalhadores da PUC (professores e funcionários administrativos)


- Fim da “maximização” dos professores;

- Pagamento de todos os salários atrasados;

- Volta dos acordos internos anteriores (rompidos em 2006), que previa, entre outras coisas, mais bolsas de estudo para dependentes financeiros dos trabalhadores da PUC-SP;

- Igualdade nos salários entre professores da graduação e da pós-graduação. Fim dos privilégios de um pequeno grupo;

- Fim do processo de terceirizações. Contratação de todos os trabalhadores terceirizados para o quadro de funcionários da PUC-SP, com melhores condições de trabalho;

- Bolsas de estudos ilimitadas para os trabalhadores da universidade e para seus dependentes financeiros;

- Volta de uma segurança comunitária, com vínculo empregatício na universidade, treinada apenas para prevenção de acidentes. Rompimento e auditoria do contrato com a Graber;

- Liberdade de organização sindical e de atuação da Afapuc e Apropuc;

- Construção de um plano de cargos e salários em conjunto com Afapuc e Apropuc. Estabilidade e garantia de emprego para todos os trabalhadores da universidade;


5)Estudantes


- Incentivo e liberdade à pesquisa científica, principalmente na área de humanas;

- Garantia de que os estudantes oriundos do vestibular de meio de ano terão turmas específicas de acordo com o currículo normal de cada curso e não serão matriculados em turmas já existentes para preenchimento de vagas ociosas;

- Incentivo a atividades de extensão que tenham interesse social para a comunidade externa, como o Escritório Modelo Dom Paulo Evaristo Arns. Criação de bolsas de estudo para os estudantes que participam dos projetos de extensão.

- Ensino presencial em todos os cursos e disciplinas da PUC-SP, não a educação à distância;

- Encerramento de qualquer processo em curso contra o movimento estudantil e garantia de que os conflitos internos sejam resolvidos através do diálogo;


6)Comunicação, cultura e democracia cotidiana


- Abertura total da Rede PUC e TV PUC exclusivamente para a comunidade, com incentivo de participação na elaboração dos programas, e que garanta seus fins acadêmicos não lucrativos;

- Criação e legalização da Rádio PUC-SP (universitária), livre para a comunidade, e em parceria com demais rádios comunitárias;

- Democratização dos meios de comunicação da PUC-SP, para participação da comunidade e cobertura crítica dos acontecimentos. Mudança do caráter da ACI (Assessoria de Comunicação Institucional);

- Incentivo de participação dos estudantes, através de espaços no site, nos jornais impressos e nas peças publicitárias;

- Atendimento ao direito de resposta às entidades representativas e membros da comunidade que forem citados nos meios de comunicação internos;

- Permissão e incentivo às atividades culturais promovidas pela comunidade interna e externa dentro do campus;

- Desautorização do PAC (Projeto de Atendimento à Comunidade) enquanto responsável pelos pedidos de uso dos espaços para atividades políticas, acadêmicas e culturais;

- Priorizar a reserva dos auditórios, espaços de eventos (sala 239, 333, 134, auditório Banespa, saguão da Biblioteca, Tucarena, Tuca, quadra, etc) e equipamentos (caixas de som, projetores, DVDs, etc) para as atividades acadêmicas e entidades representativas;

- Liberdade de uso dos murais de recados nos espaços da universidade;

- Garantia de não retiradas dos cartazes do movimento estudantil;

- Pelo livre acesso permanente nos campi da universidade. Garantia de que a PUC-SP não terá catraca;

- Eleição direta para a ouvidoria colegiada, com participação entre estudantes, professores e funcionários;


7)Infra-estrututra


- Melhor condição de estrutura física em todas as salas de aula;

- Adquirir mais equipamentos eletrônicos, conforme a demanda de todos os cursos da universidade;

- Manutenção e construção – quando necessário – das salas específicas (como as de artes do corpo, por exemplo, que necessitam de espaço, piso especial, isolamento acústico, etc);

- Realização de obras de emergência para a total acessibilidade física dos portadores de deficiências físicas;

- Não interferência da reitoria nas eleições da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes). Garantia de total liberdade de atuação para os funcionários cipeiros;


8)Política externa


- Plano de parcerias com movimentos sociais para realização de cursos, debates, palestras, e espaços de formação (como a Escola Nacional Florestan Fernandes do MST). Pelo fim das parcerias com as empresas na realização de eventos e pesquisas, por não possuírem nenhum interesse social;

segunda-feira, 16 de junho de 2008

FORA YEDA/FEIJÓ – ELEIÇÕES JÁ!!!

O governo Yeda (PSDB-RS) revelou sua verdadeira face nos últimos dias, ele é mais um governo a serviço de interesse dos grupos dominantes que utiliza o dinheiro do Estado para satisfazer a ganância destes que muito já tem. Quando do escândalo do mensalão que expôs a corrupção no governo LULA estes políticos ficavam dizendo como aqui no Estado as coisas eram diferentes e como o político gaúcho era honesto. Cai por terra esta mentira e o povo gaúcho fica sabendo para onde vai o dinheiro que devia servir a população e que aqui se rouba como lá. O governo Yeda com o discurso do novo modo de governar atacou os direitos dos servidores públicos, reduziu verbas para educação, empilhou alunos nas salas de aula piorando a qualidade da educação pública. O discurso é novo, a prática é velha, o velho modo de roubar dinheiro do povopara benefício de alguns comparsas de campanha. Para o povo gaúcho sobra repressão aos movimentos sociais, incentivo ao deserto verde com benefícios fiscais para grandes empresas como Votorantim e Aracruz. Enquanto se planta mais eucalipto, sobem o preço do arroz, do feijão...Chega de roubalheira, é hora de tirarmos do governo não uma ou duas pessoas, mas o conjunto do governo Yeda e para isso temos que sair as ruas e exigir eleições já!!!

Feijó é do mesmo saco!

O vice-governador Feijó é farinha do mesmo saco que Yeda. O fato dele ter trazido a tona a denúncia contra Busatto não pode esconder seus motivos, ele disse que sabia desde 2003, porque ficou calado?? Porque ficou no governo?? Ingênuo?? Não!!!

Ele sabia e se elegeu com dinheiro público (ele mesmo disse que sabia) é tão responsável quanto Yeda. Sua disputa com Yeda é de ritmo de fazer as coisas, ele quer entregar o Banrisul para seus amigos já, Yeda entrega aos poucos. Para os trabalhadores a questão não é do ritmo de cada um para atacar o serviço público, mas os dois são inimigos do povo pobre e só querem beneficiar seus comparsas que nos exploram. Em defesa do serviço público e dos interesses de quem vive do trabalho, o caminho não pode ser com Feijó no lugar de Yeda, e nem termos a ilusão de ir pedir que ele renuncie...A tarefa é nossa, FORA YEDA – FORA FEIJÓ – ELEIÇÕES JÁ.

BASTA DE CORRUPÇÃO

POR UM SERVIÇO PÚBLICO DE QUALIDADE.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Estudantes de Direito da UFPR derrubam portaria que desobrigava professores de dar aulas no curso de graduação

Foram realizadas três assembléias gerais com quorum qualificado e dois atos no espaço de uma semana. Houve paralisação das aulas, passagens em sala e debates abertos nos saguões do Direito/UFPR. Houve um movimento permanente de cerca de 200 pessoas, apesar de todas as dificuldades, e apoio de diversos Centros Acadêmicos, do DCE-UFPR e do SINDITEST-PR. Houve, acima de tudo, democracia entre os estudantes.

Diante da mobilização estudantil o Diretor do Setor de Ciências Jurídicas da UFPR, profº Luiz Alberto Machado, revogou a portaria 08/2008, que criava o "professor pesquisador" e desobrigava professores conceituados na academia de dar aulas na graduação. E mais, o diretor vergonhosamente declarou ao COPLAD (Conselho de Planejamento da UFPR) que nunca mais colocará os pés na Universidade e que, para isso, instalará um GPS no seu carro para que o motor pare de funcionar quando chegar a 1 Km de distância do prédio.

A revogação da portaria é fruto, sem a menor dúvida, da mobilização estudantil. Entretanto, a maneira vergonhosa com que o profº Machado deixa a direção do setor de Ciências Jurídicas é fruto da qualificação e politização dos debates.

Nos debates pudemos denunciar o autoritarismo da direção e o descaso do corpo docente para com a qualidade do ensino público. A compreensão geral dos estudantes foi a de que a Universidade Pública precisa de democracia nos Conselhos e em suas respectivas eleições.

Essa é a verdadeira vitória. Se somente derrubássemos a portaria teríamos apenas uma vitória pontual, sem nada a acrescentar para o futuro da Universidade e do Movimento Estudantil. Mas, pelo contrário, tivemos a coragem de ir fundo na questão a ponto de o movimento sentir-se à vontade para gritar pela democracia, pela exoneração dos ímprobos e pela qualidade de ensino.

A vitória representada pela derrubada da portaria e pela vergonha do nosso diretor somente nos ensina que juntos e democraticamente organizados podemos alcançar melhores resultados.

A derrubada da portaria serviu para demonstrar a urgência da democracia na Universidade Pública, com representação paritária em todas as suas instâncias de decisão. E é por isso que o movimento continua, com nova assembléia marcada para hoje à noite.
Gregório H. Brüning
Direito/UFPR

terça-feira, 13 de maio de 2008

13 de maio...A ficção abolicionista reverbera na educação superior

“Vi um pretinho, seu caderno era um fuzil.”

Negro Drama - Racionais

Nos quarenta anos da morte de Martin Luther King, grande líder negro norte-americano, presenciamos outro 13 de maio. Uma data simbólica que faz referência ao negro no Brasil. Assinada em 1888, pela princesa Isabel, a Lei Áurea foi ensinada para as gerações posteriores, como forma de manutenção da hegemonia branca e rica, sob o véu da liberdade do povo negro escravo. Quanta bondade...

Seria tamanha a dissimulação ao falar em liberdade do negro neste imenso país. Seu protagonismo na pobreza, na falta de oportunidades e na discriminação tem raízes históricas profundas e que estão relacionadas à formação do povo brasileiro e de sua riqueza. A queima da casa dos estudantes negros na UNB, o caso da escola de medicina da UFBA, as tropas brasileiras no Haiti, a notificação de focos de trabalho escravo, o não reconhecimento dos quilombos, exemplificam o cenário atual, não muito diferente de séculos atrás...

Mas não podemos falar deste 13 de maio desvinculando-o da mentirosa ideologia burguesa, com a qual estabelece uma relação íntima. Não seria prudente retirar desta data detalhes como a suspensão de escravos que vinham da África para o Brasil por parte da Inglaterra limitando o número de escravos a cada dia, leis como sexagenário e ventre livre quebrando o vínculo de escravo formal com todos os nascidos a partir de então, revoltas contra os senhores e formação de quilombos fortalecendo a resistência negra, detalhe de que o Brasil fora uma das últimas nações ao formalizar a abolição, entre outros. Temos aqui a responsabilidade de dizer que a abolição na prática já se fazia real. A lei nada aboliu. Nada mais que uma esperta jogada da elite colonial para pousar de libertária.

E conseqüentemente a república, vez que a transição do sistema econômico determinou alterações nas relações políticas, incluindo as escravistas, detentora do papel de grande contribuinte na reversão da condição do negro sem condições objetivas – sem terra, dinheiro, escola, etc. e subjetivas – visto como um ser inferior e inútil, mero objeto, não apenas não cumpriu com essa reversão, como aprofundou a condição de exclusão negra com a imigração de brancos europeus para o trabalho, agora livre. O negro, de acordo com sua condição na sociedade, aparece como segunda opção, certamente. Chegando ao ponto de alguns preferirem continuar nas fazendas em troca de comida e abrigo. Ou isso ou nada. Quantas escolhas...

O histórico racista deste país com a batuta do Estado através de suas instituições e suas políticas de desenvolvimento deve ser resgatado ao menos em datas como essas com um objetivo de constituir um melhor entendimento da negação da população negra no acesso e na permanência das escolas, principalmente no nível superior, nas surras e extermínios policiais, nos sinais de trânsito, nas moradias que combinam barrancos e barracos, nas piores condições até mesmo dentro da classe dos trabalhadores. A exclusão do negro é, sobretudo, dupla: pobreza e racismo.

Contudo, algo que é pertinente ao negro, reforçado pelo seu histórico de sobrevivência à escravidão e exclusão, é a resistência. Resistir tem sido a palavra de ordem para todos os negros e negras ao longo destes anos no Brasil. Contra o mito da democracia racial e qualquer tentativa de subjugação a movimentação negra tem ganhado espaço no conjunto da luta de classes. Os avanços do negro na saúde, na educação, nos espaços de poder, embora tímidos, são fundamentais, seja pela situação excludente diária, seja pela re-oxigenação que as conquistas trazem para a continuidade da luta, seja pela essencialidade do negro enquanto protagonista da revolução socialista brasileira, vez que tem na história seu lastro de sustentação para cumprir essa tarefa.

Acontece que dentro da movimentação negra, como é próprio também da cultura negra, a diversidade de pensamento e prática política são inúmeras. Assim como existem “capoeiras” e nem tudo é “macumba”, o movimento negro tem diferentes correntes, que atualmente se diferenciam muito em dois blocos – uma majoritária e que se aprofunda nas políticas públicas como um grande caminho (e não que seja ruim, inclusive pela dívida histórica do Estado), mas que esquecem as ruas como principal palco da luta priorizando os debates institucionais e um segundo, minoritário, que se preocupa em fazer a denúncia do racismo mascarado e contribuir com a emancipação do negro enquanto negro a partir do debate político e organização do povo negro. As conquistas institucionais como a lei que obriga o ensino da cultura africana nos currículos escolares são meras mediações. Importantes, mas pontuais. Precisamos de alterações que sejam substanciais. Algo como uma revolução.

Muito dessa degeneração atual de alguns setores do movimento negro veio de braços dados com o governo Lula. Um governo que foi eleito pelo povo e governa para os empresários. As contradições estabelecem a reflexão sobre a potencialidade deste governo para possíveis avanços do movimento negro. A saber, secretaria federal de combate ao racismo sem verbas. Como avançar no financiamento dos projetos? Tropas brasileiras no Haiti, afrontando a autodeterminação dos povos e desconsiderando o primeiro país latino a abolir a escravidão. Falta de pressão para aprovação das cotas no parlamento brasileiro, como teve em outros projetos, como a reforma universitária privatista, fechamento de rádios comunitárias atacando o direito à organização, principalmente da periferia, etc. A proximidade com este governo ou um posicionamento vacilante são cruciais para se localizar na luta do povo negro. E nesse sentido devemos ser firmes no combate ao racismo e ao governo Lula.

O ataque mais recente à população negra dentro desse contexto tem sido a priorização da cana-de-açúcar e do agronegócio/latifúndio em detrimento da produção familiar e da perseguição à grande propriedade e aos assassinos dos canaviais. Fora o fato de nos remontar ao ciclo colonial da cana, num processo de insistir no Brasil como um país exportador primário, alheio e dependente da produção tecnológica, em conjunto com as questões subjetivas da escravidão que retornam a todo tempo nas exaustivas horas de trabalho no corte da cana, com trabalhadores negros chegando a morrer de cansaço nas longas e infinitas diárias, soma-se a essa desumanização e impunidade o ataque direto à alimentação do brasileiro, com destaque mais grave para o negro, na medida em que o etanol e o biodiesel disparam no mercado e a produção da pequena propriedade que alimenta o povo fica em segundo plano. Mais uma face do desenvolvimento da riqueza do branco através da exploração do negro.

A educação é ponto que podemos citar na compreensão desse debate de emancipação do negro, bandeiras históricas, relação entre movimento e governo, avanços na luta; é temática que congrega muitos elementos importantes na compreensão do momento e das possibilidades da luta negra. É preciso, antes de qualquer coisa, perceber a educação em quesitos como o processo de conhecimento e autoconhecimento, mola do desenvolvimento científico e intelectual com vistas a uma superação da situação de dependência econômica e cultural, espaço a ser investido pela população negra na sua ótica de disputa político-ideológica, não limitada à sala de aula, ainda mais se tratando da questão racial e sua exclusão educacional formal, direito e não serviço. Essas poderiam ser diretrizes de uma educação emancipadora e libertadora.

É preciso estudar o “13 de maio” para discutí-lo como mito, como ficção. É preciso conhecer a história desse país e de seu povo. A educação pode ser uma ótima ferramenta, como pode ser apenas mais do mesmo – reprodução. Pode servir à emancipação ou à exploração. O processo de privatização recai justamente sobre essa segunda utilidade da educação. Concebendo a educação como serviço ou bem que pode ser comercializado, e não como direito do homem ao aprendizado, ao conhecimento, os diplomas podem ser vendidos, taxas inúteis são cobradas e o conhecimento mercantilizado e concentrado nas mãos de uns poucos. Poucos esses, não coincidentemente, brancos. É, portanto, essa lógica neoliberal de retirar direitos e diminuir a participação do Estado naquilo que lhe é devido, como o financiamento da educação, inimiga do povo negro.

Mais interessante, é observar que a educação superior brasileira reflete esse processo. E como os setores que disputam os rumos da educação no país se portam diante da implementação das políticas. O processo de expansão da iniciativa privada no âmbito educacional não é novo e está atrelado logicamente à queda expressiva da qualidade operacional e científica da universidade pública com o corte de verbas. À medida que sucateamos o público, fortalecemos o privado de modo que a ideologia reinante colabora com a falácia da eficiência do setor privado. Com o advento nacional do PT em 2002 as marcas dessa privatização estavam com os dias contados. Estavam...

Quando falamos em posição frente aos governos e em relação a esse governo temos de fazer isso numa orientação política da nossa discussão e acúmulo sobre a emancipação do povo negro e a construção de uma nova ordem social. Não por outro motivo qualquer. Nesse sentido, se um governo pontua sua discussão em conjunto com o capital, através do neoliberalismo, repetindo e aprofundando todos os erros dos governos anteriores, com total reafirmação do status quo, estabelece referência naquilo que devemos combater. Estamos no meio de uma onda gigante de reforma da educação superior nesse país. Uma reforma que não passa perto das reivindicações históricas do movimento negro.

A reforma universitária do governo Lula, baseada numa lógica neoliberal acima colocada, mostra para o movimento negro dois caminhos bem distintos: o de abandono das trincheiras em nome de cargos e defesa de medidas pontuais e igualmente racistas na raiz, e o da discussão ampliada nos diferentes espaços pontuando a necessidade de romper com o racismo, mas não sem o rompimento do sistema capitalista. Sistema que rege os princípios desta reforma universitária, a exemplo do ENADE, que ranqueia as universidades na competitividade por recursos, as fundações que injetam capital privado na universidade pública, ferindo a autonomia e sugando recursos humanos e físicos, PL 7200 que permite a participação do capital internacional nas universidades brasileiras, mas principalmente o PROUNI. O povo negro deve estar atento.

Com a apropriação da bandeira histórica da democratização da educação superior e para “atender” a uma demanda do povo negro o governo, lembrando que este é apenas um dos itens do grande pacote que privatiza a educação superior, cria o PROUNI – um programa de bolsas inteiras e parciais para estudantes com baixa renda e negros nas universidades privadas. Pasmem: nas universidades privadas. Não há mais fortalecimento para o setor de venda do conhecimento do que o governo financiar suas empresas-universidades. E o pior: através do sonho de toda uma negritude que clama por justiça social e pressiona por conquistas para seu povo – o sonho da universidade aparece tão forte que esquecemos de enxergar o porque de o governo não ter criado essas bolsas na universidade pública simplesmente para custear os empresários. Um verdadeiro crime.

Os negros não querem ascender socialmente e se tornarem os novos exploradores repetindo o que sofreram um dia, desta vez do outro lado. Querem que não haja mais classes para que tenham que ascender ou descender. A igualdade social é possível e mais do que necessário. Não visualizam a educação superior apenas com sala de aula e com o objetivo de conquistar um diploma e aumentar as estatísticas governamentais. O individualismo não interessa ao negro, mas sim a coletividade. Querem produzir conhecimento que sirva como instrumento de libertação dos irmãos e irmãs negras e que esteja voltado para a transformação do atual estado de coisas. Como a iniciativa privada, que está a serviço do lucro do dono que a mantém, pode nos oferecer um conhecimento e ações que rompam com a estrutura de classes e de raça? Qual a possibilidade de uma universidade privada, voltada para o mercado de trabalho como é de sua essência, frente a universidade pública, considerando aqui também a sua finalidade, nesse caso de servir ao povo, contribuir com a construção de um projeto alternativo ao que vivemos?

A resposta dessas perguntas e a atual situação da população negra em mais um 13 de maio imediatamente nos leva a negar tal proposta, inclusive porque nunca foi bandeira negra, como alguns queriam levantar. Nunca reinvidicou-se outra educação que não fosse pública. Se a completa maioria da universidade privada serve apenas aos diplomas e precisamos mais do que eles para avançar, sem contar que o projeto não garante a permanência do estudante, vez que a bolsa não cabe aos livros, alimentação ou transporte, e ainda ilude a juventude negra com o sonho da universidade pública como inserção no mercado de trabalho e melhoria das condições de vida, quando temos 60% dos estudantes formados que não trabalham em suas áreas, reforçando o individualismo da sociedade e em nada contribuindo para a sonhada e necessária revolução, colocamos firmemente: não ao PROUNI.

E o desgaste foi sentido. Surgiu o debate da política de cotas, do estatuto da igualdade racial e outros dispositivos normativos, assim como o PROUNI, no sentido de continuar a debater no âmbito da política pública e da ação afirmativa. Dessa vez com um diferencial: as cotas desta vez se referem à educação pública. O oposto do que o PROUNI representa. Mas as cotas até hoje não foram aprovadas, por mais que a discussão volte à cena como na atualidade. O governo não lançou a mesma pressão e a discussão por vezes foi arrefecida. O movimento negro, em parte, mostrou a independência e saiu às ruas e entrou nas universidades públicas exigindo o direito à educação superior pública. Esperar o governo que financia os empresários com base nos sonhos alheios não é do feitio do movimento negro combativo. Hoje as cotas são uma realidade em muitas universidades públicas brasileiras, embora a disputa ainda esteja com muitas barreiras.

A educação superior se mostra, portanto, detentora de elementos como cooptação e acomodação de setores do movimento negro em torno de determinadas ações, combatividade de outros, falta de prioridade do governo com a luta negra, mas não com os empresários, apropriação e distorção de bandeiras históricas, palco de disputa consistente, complexo e estratégico para a emancipação da população negra. Não é o único espaço. Assim, como a mídia ou o parlamento, ou qualquer outro espaço de disputa de poder, a educação é mais um campo e que precisamos avançar, para não cair apenas nos pontos específicos deixando de lado o mais importante e que está na raiz, como também nos denuncismos baratos e descontextualizados e abandonarmos a construção do projeto socialista e de libertação negra.

Barricadas Abrem Caminhos – SE

Construindo a Frente de Luta contra a Reforma Universitária

terça-feira, 6 de maio de 2008

Congresso estudantil democrático se constrói com diversidade de opiniões

Nota em resposta a direção majoritária do DCE (Coletivo: Nós não vamos pagar nada)

O Congresso Estudantil da UFF é um importante momento de debate e construção do movimento. Deve servir para armar o conjunto dos estudantes para as tarefas do próximo período. Deve fazer o balanço da luta contra o REUNI e todos os demais processos de luta na universidade. Deve proporcionar a interação entre os estudantes. E deve também refletir toda a PLURALIDADE de opiniões e concepções que há no movimento estudantil.

Um Congresso não pode esconder debates e diferenças, na busca de formulações mais unitárias possíveis e ações mais acertadas. Temos um histórico de construir a luta real na síntese de nossas divergências. Avaliamos que os últimos acontecimentos praticados pelos companheiros do coletivo "Nós Não Vamos Pagar Nada" estão na contramão de um congresso plural e democrático. O referido coletivo quer construir um congresso onde não haja espaço para distintas opiniões. Não admitimos que seja imposta uma única forma de fazer movimento estudantil na UFF, onde temos diferentes grupos de estudantes, e todos eles devem ter voz no congresso.

Em carta que circula no movimento estudantil, dizem que as mesas não podem ser divididas pela lógica das disputas políticas. Se fossem tão "puritanos" assim na escolha da composição das mesas, fugindo como dizem da lógica das disputas políticas, não propunham com tanta ênfase os nomes de João Alfredo, ex-deputado do Enlace (corrente política de inúmeros militantes do Pagar Nada) e do MST, movimento político com qual a mesma corrente busca exaustivamente manter um vínculo político. Nada contra. Achamos legítima e democrática a indicação dos nomes propostos pelos companheiros e defendemos ardorosamente que estejam nas mesas do Congresso. Mas o que nos incomoda profundamente são os ataques contra os nomes apresentados pelos demais coletivos, como se o "Pagar Nada" fizesse indicações "isentas" de sua linha política e os outros coletivos não.

Consideramos que todas as formas de pensar devem estar contempladas no Congresso. Cabe aos estudantes decidirem com qual linha política concordam ou não. É equivocado e antidemocrático esse comportamento policial de impor vetos a nomes propostos por outros grupos minoritários para compor mesas. Nunca foi tradição da militância de esquerda ter vetos a quem está do mesmo lado da trincheira nas mais diversas lutas travadas. Por isso, estamos denunciando e conclamando os companheiros a reverem essa postura com intuito de que possamos garantir, de forma unitária, a realização de um Congresso no qual o debate franco, consistente, plural e fraterno, entre todos e todas que lutam em defesa da universidade pública, possa se fazer presente e, assim, nos arme para as lutas que estão por vir.

Antes de lançar esta nota pública, todos os coletivos de esquerda no DCE, tentaram (sem êxito) buscar o diálogo com o "Pagar Nada" para que o mínimo direito de expressar a opinião fosse garantido a todos, mas os companheiros não recuaram e optaram em conjunto com as correntes governistas, PCdoB/PT, manter vetos. É bom lembrarmos que o "erro irresponsável" de parte da esquerda do ME em 2006 foi lançar-se como dona da verdade, colocar sua concepção acima das bandeiras e pautas que nos unem, rachar as chapas para os DCE's no Brasil inteiro e perder para o governo maioria das entidades facilitando a política privatista da reforma universitária. Em 2007, no embalo da luta contra o REUNI nos reunificamos e ganhamos de volta para esquerda os DCE´s. Com este problema na UFF, o Pagar Nada pode estar levando a uma vitória do inimigo comum (Lula/PCdoB/ PT).

Há quase 2 anos que construímos unitariamente a Frente de Luta contra a Reforma Universitária, apesar das diferenças que temos, não medimos esforços para que através desta unidade possamos enfrentar o governo Lula e suas medidas que sucateiam a educação, pactuada pela direção majoritária da UNE/PCdoB. Os ventos que sopram para o ME desde a UnB já nos mostram o exemplo a seguir, pois, é lutando que obteremos conquistas. Por isso, chamamos a que os companheiros do coletivo "Nos não vamos pagar nada", reflitam sobre suas posturas até aqui tomadas e que de fato venham construir um congresso democrático e plural, com respeito ao direito de todas as opiniões, para avançamos na nossa unidade e principalmente na Luta.

Chamamos cada estudante e cada Diretório Acadêmico a rediscutir a programação do congresso, para ser realmente democrático e plural. Propomos que a programação do congresso comece com a apresentação das teses para enriquecer o debate.

Coletivos Estudantis:

Barricadas abrem Caminhos – FOE
UFF que queremos – CONLUTE
Vamos À Luta – FOE

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Convite ao Seminário Barricadas RJ

Durante os dias 16,17 e 18 de maio será realizado o V congresso dos estudantes da UFF, o maior fórum de discussão e deliberação do movimento estudantil na UFF.

Este encontro é muito importante, pois discutirá educação brasileira, universidade e diversos temas específicos: saúde, opressões específicas, ciência e tecnologia, cultura, meio-ambiente, democratização da comunicação, legalização das drogas, criminalização da pobreza e dos movimentos sociais, interiorização na UFF e assistência estudantil. Também acontecerá painéis de cultura e GD's (grupos de discussão) depois de cada debate. Assim o congresso contará com contribuições e teses, que os estudantes poderão escrever para contribuir no debate.

Por isso, nós do coletivo Barricadas Abrem Caminhos da UFF, convidamos a tod@s @s estudantes da UFF a participarem de nosso seminário de formação e construção da tese ao V congresso dos estudantes da UFF. @s companheiros da UFRJ, UERJ e UCAM estarão conosco para ajudar na formulação de idéias e debates.
São os objetivos centrais do seminário:

1) Aprofundar o debate político do barricadas abrem caminhos;
2) Construção da tese ao V congresso dos estudantes da UFF
3) Discutir os temas que serão pautados no congresso, afim de socializar os debates com os companheir@s que ainda não tiveram a oportunidade de debater os diversos temas.
4) se reencontrar e todos do coletivo (tanto UFF, UFRJ, UERJ e UCAM) se conhecerem melhor.

Estarão conosco no debate também: profª Marina Barbosa (presidente da ADUFF), profª Sônia Lúcio (ex-presidente da ADUFF), profº Marcos Barreto (ex-diretor da ADUFF), Cristina Miranda (presidente da ADUFRJ).

Por isso, convidamos a tod@s e pedimos que divulguem também. Pois, será um momento de muita importância para trocarmos conhecimentos, experiências e organizarmos a luta pela educação pública, gratuita, laica e socialmente referenciada em nossas universidades!

Serviço:

Data: 26 e 27 de Abril
Horário: 26/04>>> 15h ; 27/04>>>10h
Local: DCE-UFF
Link pra tabela com a programação: http://br.geocities.com/kbana22/programacao_seminario.htm