quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Movimentos Sociais – pra quê?

“... somos um enxame,
atacando um gigante...”


Muito se fala, muito se estuda, e muito se escreve sobre “movimentos sociais” em nosso curso. Teorias e mais teorias acumuladas em livros e mentes... teorias sobre o movimento operário, o movimento camponês, o de mulheres, de negras e negros, o GLBTT, e diversos outros movimentos e atores transformadores da sociedade... teorias sobre o papel dos novos movimentos sociais que surgem. Mas ao mesmo tempo em que se fala tanto – e há até certa saturação no curso com relação a isto – em movimentos sociais, percebe-se cada vez mais certo afastamento dos estudantes em relação a estes mesmos movimentos sociais em sua vida cotidiana, na prática mesmo. Em nosso curso talvez, tal fato ocorra pela influência do pensamento e da metodologia positivista – por muito tempo a base de nossa ciência -, que postula a diferenciação e o completo afastamento entre observador e o objeto observado. O total afastamento entre o cientista e o seu objeto de estudo (em nosso caso, a sociedade). Parece que movimento social é algo tão distante, que está tão longe de nossa realidade, de nossas vidas como estudantes de Ciências Sociais. Por que será que isto acontece?
Para inicio de conversa, temos de nos fazer a pergunta básica: “afinal, mas que diachos é movimento social?” Muito se fetichiza a palavra “movimento social”, mas para nós, militantes do campo Barricadas Abrem Caminhos, movimento social não é só o MST – que talvez seja o que possui maior visibilidade, e que divide corações e mentes na sua luta por reforma agrária e soberania popular. Movimento social também é a luta dos moradores de periferia e de favelas no Rio contra o Caveirão (carro blindado da polícia, que entra na favela atirando “para combater o crime”). Movimento social é se organizar num coletivo pra reivindicar e lutar pela descriminalização do consumo de substâncias consideradas drogas, para assim buscar diminuir o tráfico que estas geram. Movimento social é cobrar do Estado um concurso de docentes, para podermos ter mercado de trabalho e para que nossas licenciaturas não tenham sido em vão. É também, lutar pelas reivindicações mais básicas e essenciais para um ser humano e sua comunidade: por terra, por teto e empregos com direitos.

“...não espere até o momento de aplaudir o ato final...”

Movimento social é isto... é não se deixar levar pelo discurso do fim da história e ficar parado vendo tudo acontecer. Afinal, só quem se mexe, é que sente as correntes que o prendem.

“não vai parar, não vai parar, não vai.”

Nós, do campo Barricadas somos parte daqueles e daquelas que apóiam e participam ativamente do processo de surgimento de novos movimentos e atores sociais, e do processo de reorganização destes movimentos. Exemplo disto, é o Encontro do dia 25 de Março, em São Paulo, convocado pela INTERSINDICAL, CONLUTAS, MST, Assembléia Popular e Pastorais Sociais, que contou com a participação de mais de 6 mil militantes de diversas entidades e movimentos (DCEs, CAs, Frentes de luta contra as reformas neoliberais, Sindicatos, Sem Terra, Sem Teto, grupos, organizações e partidos de esquerda), discutindo os rumos do movimento social e um calendário unificado de lutas para este segundo semestre.

E nós, acadêmicos de Ciências Sociais o que temos a ver com isto?
No que nossa entidade, o Centro Acadêmico pode influenciar?


Ora, nós como estudantes de Ciências Sociais, e como quaisquer outros seres humanos, temos nossas necessidades e reivindicações... temos nossas lutas: a luta pela implementação da Sociologia no Ensino Médio, a tarefa de construção de um currículo à altura dos desafios do ensino desta disciplina; a luta por concursos para docentes em nosso curso e por concursos para podermos ser docentes no Ensino Médio; a luta por estágios e extensão para nós, estudantes do curso (e há tantos lugares em que poderíamos atuar e auxiliar – ongs, sindicatos, cooperativas, projetos de economia solidária, entre outros espaços – sem com isto atrapalhar nossos estudos, como acontece hoje, quando as únicas opções são estágios precarizados (como na Biblioteca Pública, na Polícia Civil, em empresas, e na nossa própria universidade, através do bolsa permanência – que deveria receber o nome de “bolsa exploração do discente para não contratação de técnico administrativo), ou então a opção do contrato precário com o Estado através do PSS (Processo Simplificado de Seleção – no qual muitos/as de nossos e nossas colegas estão inseridos, e das/os quais já recebeu o apelido de “PSS = Professor Sem Salário).
Por isto, Centro Acadêmico não é uma entidade abstrata, como alguns acreditam e dizem por ai...
CACS também é movimento social.

"Ou os estudantes se identificam com o destino de seu povo, com eles sofrendo a mesma luta; ou se dissociam dele, e neste caso, serão aliados daqueles que exploram o povo."
(Florestan Fernandes)

Num contexto de difusão de ideologia do fim da história e do bombardeamento de mensagens de individualismo exacerbado, e de implementação do dito “Estado mínimo”, com a retirada de nossos direitos – conquistados historicamente e com muita luta -, e de precarização de nosso trabalho e do trabalho de todas e todos, não vamos ficar parados. Não nos calaremos, pois sabemos que se assim o fizermos, estaremos fortalecendo este processo. É tempo de partido... é tempo de tomarmos partido e estarmos na luta. É tempo de dizermos: “não retirarão nossos direitos, e nós continuaremos na luta. Nós queremos avançar”, pois como dizia – aqui parafraseando Maiakovski – “o bom militante, é aquele/a que queima suas pontes de retirada.”

“O futuro
Não virá por si só
Se não tomarmos medidas.
Pega-o pelas orelhas, juventude!
...
calcula (estuda),
reflete,
mira bem
e avança!
...
As vestes poeirentas
De nossos dias
Cabe a ti, juventude, sacudí-las!”


Maiakovski – 1925
“Desatai o futuro!”

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